quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

gota de frio

é a noite. vai alta a lua, vão baixas as estrelas. tão baixas como se lhes pudesse tocar em biquinhos-de-pés. estão no seu nascer-do-sol, quando mais brilham, iluminando a noite para todos. os que dormem, os que escrevem, os que sonham, os que amam, os que se aconchegam, os que se esforçam pelos olhos abertos. oiço o frio lá fora, barulhento e gélido, a tentar entrar, entrar em mim. assobia alto, chama o vento. juntos, fundidos, abraçados e agarrados, procuram aconchego. ora tentam forçar a entrada... ora a porta, ora a janela, ora o minúsculo buraco da fechadura. levantam as folhas lá fora com a fúria, giram mais uma vez e voltam a tentar.
deixem-os entrar... purificam este ar de moleza e de falso-conforto. Por vezes, é preciso gelar o coração com um sopro para este aquecer mais, e mais rápido. para este falar pelos olhos, pelos gestos, pelas palavras. deixem o frio entrar! arrefecer-me as mãos; mãos frias, coração quente. é noite lá fora, é verão dentro de mim. é lua alta no céu estrelado, é sol quente no mentiroso céu...
tenho o meu coração quente. já falo pelos olhos, pelos gestos à muito tempo. apenas me faltam as palavras.
bate bate coração... bombeia sangue como quem folheia livros, procurando o que não vem neles.
bate coração bate... última gota, primeira palavra
Amo-te

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

dó ré mi

Nunca fui de muito sol. Sempre fui mais de chuva e de vento, mesmo não suportando ter os pés molhados. Sempre procurei refúgio na noite, nas estrelas, que se infiltram no meu quarto pelas frinchas das persianas, para me exprimir verdadeiramente, para ser eu, para ser livre. Por isso é que escrevo hoje e agora, recolhido, abrigado, aconchegado. É por isso que escrevo agora, para que não me faltem palavras amanhã. Preciso delas. Preciso de as ter na ponta da língua, no meu olhar, nos meus braços, nas minhas mão... Para te declarar poesia, para te buscar com o olhar, para te abraçar quando correres para mim, para te segurar fortemente junto a mim, para sempre. Para te dizer que amo-te e que quero sempre estar ao teu lado. Nos teus dias de chuva; nos meus dias de sol. Quando tiveres cansada; quando estiver farto de estar deitado no tapete do corredor a ouvir a chuva, a chuva que lá fora convida-me a cantar, tal trovador nómada e ambulante que vive á procura de um abrigo, de algum conforto, de alguém para amar.
Vamos deixar os rodeios para trás, lamber as feridas, deixarmos-nos levar, vamos?

Dó-Ré
Mi-Lá-Si
Dó-Mi

Amo-te

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

instante Eterno

Não te consigo descrever,
traçar-te psicologicamente.
Não consigo encontrar palavras que te definam.
Não sei dizer quais os aspectos físicos que me prendem a ti,
mas sei que estão lá.
Encontrei-os mesmo sem saber quais são.

O que me apaixona em ti é o instante.
Adoro todos os segundos em que olho para ti, em que olhas para mim, em que os nossos olhares se cruzam no ar, em que estamos de olhos fechados, agarrados um ao outro.
É aquele instante em que me fazes deixar escapar um sorriso entre os dedos que tentam esconder a minha expressão tão previsível quando estou contigo.
É todo o instante que te tenho comigo, no meu pensamento, junto a mim, no meu colo, no meu abraço, nos meus beijos...
É este instante interno que quero que seja eterno. Quero tê-lo contigo para sempre, quero-te para sempre a olhar para mim, quero para sempre olhar por ti.
Abraçar-te, beijar-te, sem por favores nem perdão.

São precisos dois para dar um abraço. Aceitas?

sábado, 16 de outubro de 2010

Dueto para dois

Sentes o ritmo?
É o início desta canção,
esta que quero compor contigo.
Sentes a batida?
Acelera como quem já não quer
(como quem já não pode) esperar mais.
Preciso de 'allegrar' o meu coração,
de acelerar o passo.
É valsa, é tango, é salsa.
Escolhe-me para teu par,
alguém para te amar.
Deixa-me ser teu, finalmente
sermos só os dois.
Acabar com este contratempo,
viver sem este compasso de espera nos nossos corações.
Finalmente atravessar o mar que temos
entre o que queremos e o que não temos

Porquê esperar pelo segundo andamento?
Porquê apenas dar as mãos, entrelaçar dedos, no final do primeiro?
Afinal, somos nós que compomos, somos os dois que escolhemos a tonalidade desta canção.
Queres viver comigo em Dó Maior?

sábado, 4 de setembro de 2010

Canta-Autor

Já é noite. A lua já vai alta e antiga.
Olho discretamente para cima. Sorrio.
O céu faz-me pensar em ti,
De cada passo, de cada movimento teu,
Naqueles dias brancos de inverno,
Em todas as noites vernais.
Sentado, estive a ver a vida a passar por mim.
Á espera, ansiei que me entrasse um sonho
Que me fizesse levantar,
Deixar tudo para trás,
(só) Para te abraçar uma vez mais.
Peguei na guitarra,
afinei o coração e
comecei a cantar às estrelas
na ânsia de que estas fossem bater à tua janela
para te contarem tudo o que te quero dizer:
Tenho mil palavras, mil para descrever apenas uma.
Guardo milhões de letras para amar pouco mais que uma mão cheia delas.
Quero que acordes e que me vejas agora,
agora que tenho o coração nas palavras, nas mãos, nos olhos.
Quero que abras a janela e me ouças agora,
agora que tenho Shakespeare, Camões, Bocage na ponta da língua.

Quero que saias e venhas ter comigo
agora que teremos sempre Paris.
Dá-me a tua mão,
ligamos os mínimos para sermos discretos (para sermos só nós),
e entramos n'o Túnel

aquele do Amor...

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Bate Levemente

Aparece de mansinho, pezinhos-de-lã para não acordar ninguém.
Discretamente
Apodera-se da paisagem, molda-a à sua imagem.
Levemente
Desce,
Vai descendo cada vez mais, à medida que a cidade desperta.
Toca nas árvores, desliza pelos edifícios, acomoda-se nos carros...
Quer senti-los!
Quer senti-los como seus, senti-los de todas as maneiras,
Apoderar-se de toda aquela matéria física.
Como se fosse gente,
Corre para o aconchego dos primeiros madrugadores,
Refugia-se nos seus abrigos, nos seus capuches e guarda-chuvas.
Como um parasita, suga-nos a felicidade, traz-nos a apatia.
De mal-humor o encaramos,
Irritado nos responde,
Ninguém cede neste braço-de-ferro.
Queremos que volte a casa. (sente-se sozinho)
Queremos que desapareça. ele só quer companhia.
Alguém com quem possa adormecer
(mas à noite todos lhes fecham a janela)
Por isso fica acordado, olhando pelas janelas,
Desejando fazer parte daqueles filmes americanos
Daqueles em que o protagonista fica com a rapariga gira
(ao menos tem alguém que o aqueça nestas noites frias)
Quer sumir, como fumo no ar, para que não possa ter de acordar novamente.
Quer acabar com o seu sofrimento todo.
Quer poder saltar dum edifício e não ter que pensar que será inútil, que será em vão.
(afinal é só lágrimas)
Finalmente cede, como alguém que desiste duma greve de fome.
Ferido por dentro, é verdade. Mas a Fome aperta.
Vira costas, segue caminho.
Vai para o oceano.
Levam-o os rios, recusando algo em troca.
(Correm por gosto).
Suavemente, desaparece no horizonte. Amanhece.
A cidade acorda.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

(Des)cristalizado

Pensei ser gente um dia. Viver eternamente nesta fatal banalidade, á espera que chegue a hora em que tudo tem sentido.
Fui durando, aderindo às trivialidades monótonas, seguindo as rotinas pré-definidas. Sentava-me á noite cansado da imperturbação contínua, sóbrio da insuficiência da minha inexistência.
Gangrenado, fui concluindo o óbvio: para ser alguém tinha de saber amar.
Amar... verbo proibido que significa entregar-se de corpo e alma a alguém; ser uma e duas pessoas ao mesmo tempo com outra pessoa.

Amar? Nunca soube o que isso era, ou é... Não é algo que se aprenda nos livros escolares, infantis, de fantasia, romances, de cheques, policiais nem de aventura. É algo que simples e naturalmente cresce dentro de nós quando já não conseguimos viver sem aquele sorriso de final-de-tarde.
Ouvi dizer que é fantástico, que o mundo não vive sem amor, só dura.
Que quem não ama, não é feliz.
Aqui estou eu, então, mera marioneta do destino, á espera que mude o meu Fado.
Descontente, então, aqui moro, só de passagem, sentado á espera de aprender essa palavra, pois
Quando te conheci o meu rosto, enfarpado, deixou escapar um sorriso.
Descristalizado, desparalizado me deixaste, trouxeste-me o paraíso.
Por isso quis, e quero, aprender a amar, a amar-te...

Nesta noite, ensina-me a amar

quinta-feira, 17 de junho de 2010

T(r)ocar de Corações

Sinto-me longe. Não,
Não te sinto, não te vejo.
Perdi os teus dedos, larguei-te a mão.
Segui, parti, sem me aperceber que te deixei para trás,
Sozinha.
Quis ter tudo:
Quis o teu sorriso e o poente quente.
Quis desvenda-lo agarrado a ti.
Fui egoísta e por isso fugi-te sem o querer...
De cotovelo molhado, olhos embaciados,
Chove, e eu estou sozinho ao relento;
Chove, e eu não tenho quem me abrigue;
Chove, e eu não te tenho junto a mim;
Chove
mas vou chegar a ti.
Quero segurar-te as mãos, entrelaçar os nossos
dedos, nó cego para não mais se soltarem.
Quero abraçar-te, tocar de
corações, dar-te o beijo que mereces.
Dar-te céu e sol em versos, mar e luar em poemas.
Correr, sem me cansar, contigo
Atrás do teu nascer-do-sol
Apenas, sossegadamente, ter-te a meu lado.

Se eu te pudesse abraçar mais uma vez,
amarrado á tua cintura,
dirias as palavras proibidas?

Os Homens também choram.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Minha Pequena Inocência

Está vento lá fora. Parou de nevar.
A chuva miudinha vem, por momentos, para preparar o fim.
Abro a janela. Vejo as árvores a dançar,
A ensaiar para o espectáculo final.
Vejo o nevoeiro a levantar.
(Está a acabar...)

Olho o horizonte,
Vejo os montes a despedirem-se,
Despedidas sem saudade
(Está quase, está quase...)
O céu puro começa a esfriar
(cor fria),
Espelhando o além espelhado,
Dando á luz uma nova brisa.
(Estás a chegar...)

Nascer-do-sol - inocente,
Espreitando por cima da colina,
Pequeno traquina.
Baixinho assobia,
Cantando para os pássaros
Á espera da tua entrada.
(Profetiza a tua chegada)

E, a sorrir, ainda meio escondido,
Com seu ar de felicidade,
Ajuda as nuvens -
Empurram-no para o desconhecido.
(Voltará quem sabe...)

No último comboio embarcou,
Está na hora!
Adeus minhas árvores, meus montes,
Adeus Minha cidade...
Ela chegou!

Adeus meu Inverno...

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Aconchegada(o)

Balada. Oiço-te o teu perfume: chama-me por nomes invulgares.
Eu, soneteiro rasca, baixo a voz e respondo.
Ouves-me beijinhos queridos.
Aconchegado,
Ficaria contigo a noite toda.
Aconchegado,
Traduziria-te em várias palavras.
Ou apenas numa.
Em tom solene, cheirinho de hortelã, naufrago contigo

Numa noite de chuva

Tenho de partir… malditas metáforas de despedida.
Esgota-se-me a música,
As quadras de S. João,
Os versos soltos talhados.
Ensanguentado,
Mal se distinguem os padrões dos vestidos,
Penso no que te disse - tenho medo de esquecer o teu rosto.

Junto do mar,
Que importa o rugido do vento?

Senti o teu perfume nas minhas mãos.
(insaciável tentação)
Despisto a luz vermelha – preparo-me para um segundo round.
Aconchegada

Diz-me onde é o teu esconderijo

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Danças comigo?

Senta-te comigo, deita-te comigo...(meus braços à volta da tua cintura)
Meu doce, meu sonho - nossos dedos entrelaçados: suave toque que me adormece.
Hoje, invertem-se os papeis...
Hoje sou eu que procuro abrigo em ti.
Hoje sou eu quem quer que tudo desapareça à excepção da tua presença.
Hoje sou eu quem quer ficar a olhar para os teus olhos, calma e serenamente, para essa tua luz - universo de estrelas...
Canta-me ao ouvido uma canção para mim. Diz-me que não estou perdido.
Hoje, os papeis invertem-se...
Frágeis mãos que, delicadamente, passam na minha testa, dedilham meus cabelos, desenhando-me um sorriso.
Hoje estou a teu lado... (mas quero-te feliz)
Quero o teu abraço (seguro), quero dar-te o meu beijo na testa (leve para te levar comigo).
Hoje, e amanhã, quero-te a meu lado.
Não me fujas, nunca (!). Não me apagues esse teu sorriso que tanto me custa a pintar-te.

p.s.:E eu vou dizer que à noite é mais quente à luz do teu olhar...